Nora’.O bilhete.
Nora acordou completamente num segundo. Sentia-se forte, potente, sexy! Caminhou até o banheiro e contemplou seus olhos borrados de rímel, lápis e delineador preto. Gostava dessa cara remendada de ontem. O dia seguinte parecia sempre uma foto instantânea e efêmera do passado recente, ainda fresco. Uma polaroide. E que seguia perecível na pia do banheiro de Nora. Caminhou até a sala e encontrou um bilhete na mesa de centro, entre as revistas de moda e arte da sala de Nora. As palavras feitas à mão contidas no papel diziam: “Descobrir mais detalhes dessa menina amanteigada me deixa elétrica. Sinto a energia fluindo como a água que corre sem parar, sempre seguindo em frente! Correnteza que sou, queria desaguar em você, algumas vezes, repetidas vezes, me deixando encharcada de delírio e deleite. Peço que não te assombres com minhas atitudes ou palavras. Apesar do que parece, é puro e dolorosamente sincero. Estou fazendo o que eu quero. O que o coração pede a cada novo amanhecer que posso me encontrar com você, e assim, dividir conversas, forças, músicas, fumaças e pele! O que eu posso fazer? Ainda não sei. Tô fazendo como me vem. E você me vem, a toda hora na memória do meu corpo. Aproveite o final da semana, durma bem, ame o seu pai, seu irmão. E volte! Estarei te esperando.” Nora impactada caminhou trêmula até a geladeira e pegou sua garrafa quase congelada de água. Tomou um gole e meio e sentou-se no banco colorido de vermelho embaixo da bancada de sua cozinha. Cozinha de Nora. Espaçosa, livre, arejada. Ela segurava entre os dedos compridos as palavras recém lidas de Moema. Sua doce pequena. E prendia dentro de si o cheiro e a textura dela. Bebeu mais um longo momento congelado de água e se levantou. Pegou uma banana, duas. Precisava ir embora e deixar aquele lugar. Por algum tempo…