Chiara’,Chuva’
Andava chovendo dentro dela. Ela andava transbordando. Molhada, encharcada, inundada. Uma mulher completamente preenchida e fluida. Mas como se rio fosse, não deixava de correr e querer se encontrar nos braços do mar. Ela chovia correnteza. Lambia muitos troncos à sua margem. Se lambuzava, por vezes, tragava para as suas profundezas. Mas os devolvia ainda mais cheios de vida, brilhantes ao toque violentamente sutil do sol. Ela nadava em si. Com braçadas largas. Deslizava ligeira dentro de suas friezas escuras e sua superfície lavada. Seu corpo gerava energia e saciava a sede de muitas terras. Generosa como ela. Uma parte de si evaporava pelo caminho. Alimentando assim também os seres do céu. Pura e natural como ela só. Vigorosa, convidava cada um a dançar, a se aventurar sob suas gotas gordas e cintilantes. Lavando as almas solitárias. Dando de beber aos animais secos e esgotados. Aqueles que já se tornaram invisíveis. Os que vivem à margem. Sem água. Esperando o milagre da vida. A terra recebendo o gozo jorrado de pesadas nuvens. O banho divino, o beijo molhado e roubado no meio de uma avenida deserta, outrora seca. Agora, fecundada. Lá ia ela. Como um lago calmo ou uma catarata absurdamente vasta, misteriosa, poderosa! Ela, a mulher e a chuva. Sozinhas nessa noite vazia e deliciosamente fresca.