Letícia’;Café com leite;
Chupada, fodida, gozada! Letícia parecia um copo de leite derramado. Desses bem fresco e cheio. Que se espalha branco e puro pela superfície que toca. Leti, para os mais íntimos, tinha profunda intimidade com muitos amigos. E por onde passava, deixava milhares de par de olhos hipnotizados por suas curvas leitosas. Leti era mulher cremosa, caramelizada, tomada a grandes goladas. O alimento puro dos famintos, dos que morrem de vontade. Dos desejos secos, das bocas vazias e saudosas. Embriagadas pela memória do gosto de outrora. Mas parece que Letícia parou de se derramar. Há algum tempo, a branca fêmea vem quase transbordando em um único copo. Agora está contida, ocupando o vazio feito de um metro e noventa e dois. Dividido em gomos e maciez. Negro homem aromatizado. Doce e amargo. Pingado. João. O café de todo dia. O preferido de Letícia.
.Imaginário.
Dentro dela morava a felicidade. Mas estava enfiada numa veia vadia, escondida. Ela procurava lá fora. Buscava em todos os campos. No trampo, na família, no amor, na tara! Ela metia dentro de si uma infinidade de pessoas gostosas. Boas, generosas! Tinha faro para boas trocas. Se fazia vaidosa e devassa, mas quando se via sozinha, sofria de vazios. Chorava uma vida. Depois, sentava-se em sua poltrona gasta dos tempos antigos e abria as pernas. Abaixava um pouco a calcinha rendada. Com uma das mãos, abria os grandes lábios. Com a outra, apontava o grande dedo médio, duro e experiente, para o contato entre as frestas da renda e o grelo já rígido e úmido à espera do fim projetado. Olhos fechados, corpo contorcido e trêmulo. Músculos travados. Mexendo freneticamente a medida em que seu corpo respondia ao seu próprio estímulo. Abria mais as pernas. Já sentia mil paus duros dentro de si. Na frente, atrás, em sua boca. E de repente, todos gozavam juntos e perfeitamente encaixados. Mulheres lindas chupavam seus seios. Todos os buracos dela recebiam gota por gota enquanto sua pele expulsava seu melado transparente e sagrado. Quando abria os olhos já estava sozinha. Descabelada, suada, cansada. De olhos inchados e corpo latejante, ela caminhava para seu tatame no quarto e jogava aquela locomotiva fervente no solo. Se deixava ficar até adormecer. Sonhava com outros tantos paus. Algumas bocetas no meio, embaralhadas. Bocas rosadas, brilhos, cheiros, línguas. Tudo junto e misturado. Acordava sobressaltada e atrasada. Corria para o trampo. Trampava o dia todo. E a noite, trepava. Louca e lânguida. letárgica e lancinante. Era assim quase todo dia. À procura da felicidade, apaixonada pela vida, pela liberdade. E um tanto perdida. Tomada!
Chiara’,Chuva’
Andava chovendo dentro dela. Ela andava transbordando. Molhada, encharcada, inundada. Uma mulher completamente preenchida e fluida. Mas como se rio fosse, não deixava de correr e querer se encontrar nos braços do mar. Ela chovia correnteza. Lambia muitos troncos à sua margem. Se lambuzava, por vezes, tragava para as suas profundezas. Mas os devolvia ainda mais cheios de vida, brilhantes ao toque violentamente sutil do sol. Ela nadava em si. Com braçadas largas. Deslizava ligeira dentro de suas friezas escuras e sua superfície lavada. Seu corpo gerava energia e saciava a sede de muitas terras. Generosa como ela. Uma parte de si evaporava pelo caminho. Alimentando assim também os seres do céu. Pura e natural como ela só. Vigorosa, convidava cada um a dançar, a se aventurar sob suas gotas gordas e cintilantes. Lavando as almas solitárias. Dando de beber aos animais secos e esgotados. Aqueles que já se tornaram invisíveis. Os que vivem à margem. Sem água. Esperando o milagre da vida. A terra recebendo o gozo jorrado de pesadas nuvens. O banho divino, o beijo molhado e roubado no meio de uma avenida deserta, outrora seca. Agora, fecundada. Lá ia ela. Como um lago calmo ou uma catarata absurdamente vasta, misteriosa, poderosa! Ela, a mulher e a chuva. Sozinhas nessa noite vazia e deliciosamente fresca.
Clara’.Lá.
Eles estavam um por cima do outro. Ainda de roupa pois resistiam ao já declarado desejo doído que pairava entre os dois. Clara estava por cima. Ambos sentados, ela envolvendo o tronco dele com suas pernas longas e macias. Podia sentir em seus meios já encharcados, a dureza grossa que despontava do corpo fervente dele. Suavam. Suas bocas se procuravam nervosas e úmidas. Demorou para encaixar o beijo que até o presente momento se fantasiava de intenção fraterna. Fraterna? Nada por ali era terno. Tudo era tenso, escorregadio, urgente! Clara levantou a blusa e exibiu os seios rosados e pulsantes. Ele logo pousou suas mãos com profunda delicadeza, apertando de leve todo aquele contorno perfeitamente redondo, cabendo exatamente em cada uma de suas grandes e experientes mãos. Os gemidos contidos por infinitos dias começaram a se libertar de seus corpos já completamente nus e dentro um do outro. Um do outro. Estavam assim, sendo. Estavam conectados, ligados, grudados. Por ali as horas passaram. Se comiam, se engoliam. O beijo já sabia todos os caminhos e sem ansiedade, molhava a pele arrepiada de tesão. Tremeram juntos, gritaram abafados e se desaguaram dentro de si, dentro do outro. Dentro. Dentro. Um do outro. Como fariam agora? Queriam seguir assim. Dentro, fundo, colados. Se desencaixaram e seguiram a finitude do dia. Dia eterno, dentro dele, dentro dela. Quem os visse cruzar a rua, sob o sol seco de agreste, não poderia imaginar o que levavam por dentro.
Ella’.Tangerinas.
Ella passava as horas na rodovia estadual. Vendia tangerinas frescas na beira da estrada. Fazia um bom dinheiro com isso. Não bom o bastante na verdade. Mas o suficiente para a realidade que estava levando. Afinal, Ella completava a renda com um simples prazer. Obsceno pensava às vezes. Mas na verdade isso não parecia ser. Vinha de maneira natural. Ella era bela moça. Esguia mas recheada onde para muitos se devia. Ella era brilhante! O sol parecia morar em sua pele. Macia e cheirosa. Vistosa como suas doces tangerinas. Pois bem, muitos motoristas, seus clientes, experimentavam mais do que a carne da fruta. Ella se despia entre as árvores mais frondosas do mato solitário e se abria em flor. E sem pudor. Atrás do homem que pressionava Ella contra o tronco, brotava uma fila de famintos viajantes. Quem passava mais ao longe na estrada, conseguiria enxergar o borrão humano entre o verde selvagem da paisagem. Mas jamais poderiam imaginar o que de fato acontecia ali, quase todo santo dia. Ella, florida e aberta para uns quinze paus eufóricos. Cutucantes, tensos. Alguns ligeiros, outros mais deliciosamente demorados. Uns não sentia. Então pegava a mão do rapaz. Ella sabia cultivar bons dedos dentro de si. Todos ali entravam. Dedos e paus e línguas presentes. Mas somente um cliente não pagava. Aquele que a fizesse gozaaaaaaaaaaa r com sinceridade. E geralmente era assim mesmo, de quinze, só um sabia fazer do jeitinho mais encaixado no corpo escaldante de Ella. Mas houve um problema. O boca a boca. A clientela cresceu muito. Asfalto e mato tinham atentos ouvidos. E língua deslizante de falar. Ella diminuiu o número de tangerinas. Até que um dia, nunca mais voltou. Ella juntou toda sua pequena fortuna, comprou uma moto e colocou seu corpo em cima dela. E as duas, sobre a estrada. Rumo ao sol.