Kalidia’…Otto Lara Resende ou…
Kalidia era amante de histórias humanas. Onde cada face de desnuda de hipocrisias e falsos amores. Tomada por tamanha paixão, passou a tirar do papel os fetiches mais surpreendentes e a colocá-los dentro de si. No início, convidava os amigos mais livres que tinha e ensaiava com eles cada contexto, cada linha bem escrita. Começou com Nelson Rodrigues. Saiu de carro com um antigo colega dos tempos de escola. Foram parados repentinamente pela tempestade que caía grossa do céu e por um volumoso grupo de homens negros surgidos do asfalto. Alguns eram magrelos, outros bem fortes. Eles a arrancaram do carro e a deitaram sobre o capô rasgando com uma pitada de violência suas roupas. Kalidia fingia surpresa e medo. Mas logo se entregou gritando para o homem mais gordo do bando: “cadelão, me fode cadelão” e ria, completamente molhada por fora e por dentro. Enquanto isso, o antigo colega dos tempos de escola, assistia a tudo perplexo. Ele não sabia ao certo o que aconteceria. Foi às cegas para uma “aventura” prometida por ela. Com o tempo, Kalidia deixou a “bonitinha, mas ordinária” de lado e começou a escrever com seu próprio corpo novas histórias. Fundou então o Clube de Leitores e Escritores Ativos. Dentro de sua própria casa. Eram noites orgásticas regadas a vinho, músicas devidamente selecionadas, e uma inspiração lasciva e ousada. Fingiam ser escravos sexuais, viciados em tabus e jogos casuais. Homens, mulheres, trans, todos ferviam numa sopa de letras bem temperada e muito colorida! Kalidia ganhou fama nos bastidores seletos de outros grupos sexuais. E transformou seu hobby em ganha pão. Começou a fazer sessões de aconselhamento, oficinas de liberação corporal e criou um blog erótico. Fez seu prazer pela investigação da alma humana virar fortuna. Independente e sem culpa. Sem máscara. Linda e ordinária!