Maria Alice’…Só se…
Se encontraram na virada do ano depois de quatorze idos anos ocultos um do outro. Tinham vivido aquele amor tórrido, de arroubos, pueril. Transavam na velha caminhonete do pai dele. No mato, no banheiro sujo do botequim do seu Raimundo. Na cama do quarto dela com a porta entreaberta pois a mãe não permitia intimidades a sete chaves. Afinal, eram muito jovens. E assim o clichê seguiu perfeito. Veio a posse, o ciúme, as brigas até as vias do desrespeito. As mães da menina a mandaram para a Austrália. O país não estava vivendo o seu melhor momento mesmo. Ele ficou, o rapaz. Estudou, se formou, abriu consultório e quase se casou. Não compareceu ao próprio casamento. Apanhou muito depois disso. E voltou à rotina. O tempo passou mais um tanto e um novo ano se aproximava. E foi ali, no salão da casa de um velho vizinho amigo que ele a viu entrar. Maria Alice. Um amontoado de curvas bem distribuído e bronzeado. Altiva, segura, madura. Mulher! Trocaram olhares, ela sorriu com o canto dos olhos e ele com as covas da boca. Boca que em tempos antigos havia adentrado as reservas daquele corpo feminino. A festa correu, a pista aqueceu, os fogos estouraram e nada aconteceu. Entre eles agora havia somente um passado selvagem e um presente sereno. Guardado nos olhares risonhos do ano recém passado. A mulher não o queria mais. Há muito tempo não o queria mais. Ele voltou segurando o desejo na mão, sozinho. E saudoso.