.Só.
O cheiro da chuva invadiu seu gozo. Sozinha no sofá, enfiada numa tarde quente e rubra, ela começou a se tocar. De forma despretensiosa só para sentir uma cócega. Mas seu corpo foi enrijecendo com os dedos mais firmes e frenéticos. Molhada, dura, pulsante, encharcada. Do lado de dentro tudo se apertava, contraindo e descontraindo músculos. Do lado de fora nuvens grossas aportavam sobre o azul límpido de uma seca fora de hora. E assim, sem aviso ou pretexto, céus e ela inundados. O dia sendo lavado e ela sendo tocada, por ela e seus pensamentos livres, imorais e vertiginosos. Ela repousou as mãos ao longo do corpo e deixou penetrar a brisa úmida dos pingos externos. Estremecida. Uma mulher, solitária e satisfeita. Refeita de segundos atrás. Ela desce de shorts e top e se deixa banhar pela força da natureza. A chuva era agora tempestade, bruta e natural. Ela ainda era fogo, ardendo nos recantos de seu corpo. Mas se põe a escorrer rio sob o pingo robusto caído do infinito acima dela. Ela, solitária e serena. Refrescada de agora, arrepiada, singela, do lado de fora. E por dentro chama, no instante pequena mas logo fogueira, ardendo em um novo amanhecer, quente e rubro. Seco. E ela… Molhada. Toda molhada.