Tita’;Nosso silêncio;
Tita passou aquele dia perplexa. Pensando em sua sorte. É verdade que já havia sido abusada. Mas com os olhos e com as palavras. Nunca com o toque. Com a invasão física. Sempre tinha sido penetrada por pessoas que ela escolhia, que ela queria. Pessoas que seu corpo permitiam conhecer, trocar, dar prazer. Ela sempre foi dona de seu desejo. Dona de suas loucuras incrivelmente fantasiosas. Mas aquele dia era diferente. Os dias, na verdade, estavam ficando diferentes. Mais escancarados, mais abertos. Tudo exposto e julgado dentro de uma vitrine virtual. Então, Tita no meio de tanto barulho, resolveu se calar. Fazer um voto de silêncio. A ausência de som para respeitar a dor de tantas mulheres rasgadas e infindavelmente marcadas por mãos e paus podres. Cheios de preconceitos e ignorância! Pobres homens rasos… Tão pequenos e mal amados que buscam a ilusão mais suja do machismo. Acham que têm direitos sobre nós! Que somos todas deles, a qualquer hora em qualquer circunstância. E não medem baixeza para tal. Não sentem vergonha, remorso e nem tesão. Tudo é falso. São fracos e desprovidos de boas sensações. Ficam com o escuro. Nós levantamos! Sacudimos a pele morta e seguimos. Fortes, matriarcas guerreiras! Alimentando o mundo com nosso leite, nosso sangue e nossa sensibilidade. Nossa sagacidade. Mas por hora, manteremos as pernas bem fechadas!!!