Lúcia Helena’.Na dor.
Lúcia Helena não tinha rodeio nenhum. Era incisiva e precisa. Como a própria medicina lhe exigia. Mas Lúcia Helena, antes de tudo, sempre foi espontaneamente livre. Sempre fez o que quis, o que escolheu. Saiu de casa cedo, foi a primeira de sua turma na Universidade. Se formou quase antes do tempo pois foi brilhante em sua residência. Na vida pessoal não era diferente. Teve alguns namoros sérios mas logo percebeu que a monogamia não servia para ela. Uma mulher sem meia hora, fascinada pela vida. Lúcia Helena trepava com enfermeiros, médicos, e claro, com os residentes. Lúcia Helena dava. Dava com amor, com paixão. Mas tudo era tão efêmero que o sabor do presente se fazia completo. Um dia, passando por uma livraria, Lúcia Helena comprou um exemplar muito bem ilustrado do Kama Sutra. E como uma aluna disciplinada estudou cada posição. Testou todas elas. Com eles e com elas. Lúcia Helena era livre. Não ligava para a opinião dos outros. Escutava apenas seu coração. E a flor pulsante que carregava entre suas pernas. Lúcia Helena, uma cardiologista de respeito. Uma mulher voraz, faminta. Salvando vidas. As dos outros e a própria. Lúcia Helena, uma cidadã sem hipocrisia. Uma pessoa sincera.