Aurora’:Meu tempo:
Tiago foi entrando dentro de mim como um filho que rompe o último obstáculo para finalmente respirar a vida de fora. Parecia que ia demorar, mas depois que a cabeça passou, o corpo foi todo de uma vez. De supetão. No susto. No grito. No grito que soltei na hora. Doeu. Mas foi uma dor misturada com uma dose delicada de prazer. Depois do grito veio o gemido. Tímido, úmido, quase contido. Suas mãos grossas me envolveram e meu peito começou a pulsar junto com o peito dele. Veio o calor, o suor, os cheiros. Eu já estava embriagada, tomada a goladas demoradas. Até que chega o momento do ápice. O gozo infindo. Respiro enfim. Trêmula, ofegante, mas respirando. Enchendo o meu corpo de oxigênio, fumaça e partículas das mais variadas naturezas. Cheguei ao mundo. E eu não quero sair dele tão cedo. Mas ele saiu de dentro de mim. Leve, menor e escorregadio. Se levantou e foi embora. E eu fiquei ali, renascida e adormecida como um novo ser feliz! Uma nova Aurora. Esperando o próximo despertar. Para desbravar e ser em retorno desbravada. Para me doar. Meu tempo, meu templo e meu desejo. Sou morada de mim.