Kátia’.Num futuro de ex.
Kátia recebeu o telefonema de Mariano e achou estranho. Ele era seu colega de faculdade. Estudavam designer de interiores. O rapaz convidou a moça para um café no fim da tarde ou para uma cerveja no fim daquele mesmo dia. Era uma quarta, não teriam aula pois a professora estava de cama. Kátia, meio receosa, aceitou o inesperado convite, pois estava mesmo entediada, e claro, curiosa. Extremamente. O dia transcorreu como qualquer outro com suas rotinas encaixotadas em pequenos apartamentos, barracões e aglomerados escritórios espalhados pela cidade. Sorte de quem podia dispensar horas em um jardim de uma casa grande. Kátia vivia em uma quitinete. Saiu de seu singelo quadrado e foi para o boteco dos universitários esperar por Mariano. Dezenove horas pelo horário de Brasília. Passado um pouco, ele chegou. Era um homem bonito, alto, moreno, de olhos amendoados e vivos! Um esteriótipo latino da melhor qualidade! Era popular pelos corredores da Universidade não por ser apenas bonito, mas principalmente por ser de fato, um cara gente boa! Cumprimentava quem cruzasse seu caminho. Mesmo quando seu humor estava azedo. Kátia viu aquele pedaço masculino sorrindo em sua direção e sentando-se defronte a sua ânsia de saber finalmente o real motivo daquele encontro. Ao pensar nisso, a espinha de Kátia gelou… Aquilo seria mesmo um encontro? “Meu Deus!” pensou alto. Ao que ele indagou e ela por sua vez ruborizou. Sentiu o rosto inteiro queimar, arder, pegar fogo. Ele reparou mas preferiu não comentar. Ela agradeceu silenciosamente a gentileza velada dele. Começaram a papear. Amenidades, cotidianos como o tempo e a aula passada em que uma colega mostrou os seios ao professor machista. “Foi um protesto” defendeu Kátia. Mariano concordou. Depois de três garrafas ele tascou: “tava louco pra conversar contigo… Você tá saindo com a Melinda né?”, Kátia respirou sentindo um grande alívio ao constatar que ele sabia de suas preferências sexuais. Não, aquilo não era um encontro. “Sim, estamos nos conhecendo. Ela é uma ótima garota!”, kátia respondeu. Ele então veio mais seco, pausado, um pouco pesado e disse: “ela é minha ex. Aliás, ela é a minha segunda ex com quem você sai”. Kátia ficou branca. Toda a queimação de outrora, avermelhada, dera lugar a uma fisionomia digna de um autêntico fantasma. Mas Mariano sorriu novamente, mais bonito do que antes, quando andava junto ao encontro da mesa onde Kátia o esperava. Entre dentes saudáveis ele afirmou que não havia problema algum. Ele só queria conhecer melhor a colega de turma que tinha tão bom gosto quanto ele. Isso fez Kátia sorrir de volta, descompromissada, leve, contente como uma adolescente que troca o primeiro beijo. Kátia não era nem de longe uma jovem crua. Uma balzaca que cursava sua segunda graduação e que já tinha experimentado muitos corpos. De todos os gêneros. Gostava de pessoas. Mas definitivamente desfrutava melhor os corpos femininos. Apreciava a delicadeza, a maciez tranquila daquelas de intuição intrínseca, profunda. Mulheres… Ah, como as amava. E sentia-se amada de volta. Ao final de um engradado que varou a chegada da madrugada, de um novo dia, eles se levantaram e se abraçaram. Kátia morou ali, naquele abraço pelos segundos que duraram. Ou foram minutos? Não saberia dizer. Tudo parecia meio paralisado. Ela sentiu então a dureza pontuda dele. Foi quando se afastou. E viu Mariano arder agora. A pele toda tomada de um roxo sem vergonha que denotava muita, muita vergonha. Um paradoxo ambulante. Nele, nela… Kátia sentiu o desejo dele e o desejou de volta. Em silêncio deram as mãos e tomaram um carro que ela já havia chamado pelo aplicativo. Foram para o quadrado dela. E fizeram o espaço se apequenar ainda mais diante da imensidão que foram ela e ele ali, nus, suados, dois vulcões entregues a um desejo genuíno, surpreendente, tomado. Kátia tomava o corpo de Mariano como se toma uma coca-cola depois de tanto tempo sem tomar. Sabe que não gosta tanto mais. Sabe que não faz bem. Mas toma ainda sim, a goladas urgentes, secas. Ele chegou ao fim rápido para os padrões dela. Provavelmente ele também escondia urgências. Ela se abriu mais e se entregou aos lábios e língua dele. Não sabe quanto tempo se passou. Mas o suficiente para sentir as bolinhas de gás refrescarem seu corpo. Ele por ali, não tinha pressa. Mas enfim Mariano foi embora. E Kátia adormeceu com o sol despontando no horizonte gélido das primeiras horas de uma fresca manhã. E sonhou. Sonhou com a pequena Melinda. Linda, linda!