Lacívia’.imoral.
Lacívia era imoral. Um metro e oitenta de uma mulher generosamente grande. Gorda, cheia de peito, bunda, perna e barriga. Lacívia era negra, favelada e encantada. Quando Lacívia nasceu, sua mãe disse a todos que a menina que saiu de dentro dela com 4 kg e meio não chorou ao primeiro choque com o mundo. Lacívia cantou. Cantou profundo o impacto desse ar em seus recentes pulmões. Pulmões estes que a mãe da pequena tratou de colocar na natação, no basquete, no canto e no hip hop. Todos projetos sociais de voluntários moradores da mesma favela. Lacívia sempre inquieta, adormecendo dentro de si apenas a maturidade que viria em seu tempo necessário. A menina cresceu e como dizem por aí, apareceu! A jovem Lacívia chamava atenção por onde passava. Na maioria das vezes, eram olhares negativos, carregados de ignorância e intolerância. Era inquestionavelmente uma mulher, gorda, preta e pobre. Apesar da infância feliz, a adolescência veio cobrar sua realidade. O preconceito doeu fundo. Mas a moça não se abalava. Cantava. Sempre cantava. Virou camelô para pagar a bolsa parcial que conseguiu na faculdade de comunicação. E vendia tudo cantando. Com decotes de constranger e hipnotizar qualquer um, Lacívia sorria e voava. Experimentou tudo. Homens, mulheres, trans, casais… Se dava em doses cavalares para aqueles que sabiam apreciar uma deliciosa carne. Lacívia era o próprio significado de desbunde. Era saboreada, comia também. Abria as pernas quando queria e pra quem ela queria. Numas dessas, um figurão da indústria fonográfica se apaixonou por aquele montante estonteante de mulher. E produziu um disco todinho da amada. Lacívia Carisma levou multidões a pensar fora da caixinha. Se estabeleceu e viveu. Completa de si. Um verdadeiro vulcão humano, como todos, imoral!