,Cândida,
Cândida sofreu muito na adolescência. Simplesmente por conta do nome. Os meninos magrelos e espinhentos gritavam aos quatro ventos: CANDIDÍASE! E as meninas, por sua vez, sussurravam e sorriam quando ela passava de cabeça baixa, triste e magoada. Voltava pra casa afogada em livros grossos e lágrimas. Sua mãe a consolava: SEU NOME SIGNIFICA ALGO PURO E INOCENTE. E TAMBÉM UMA BOA AGUARDENTE DE CANA, CACHAÇA MESMO! AQUELE QUE TE PROVAR PRECISA TER CAUTELA E NÃO SE ENGANAR COM SUA PUREZA E DELICIA. ESSA PESSOA PODE SE EMBRIAGAR FACILMENTE. Cândida sentia aquelas palavras como um sopro depois do tapa. Abraçava a mãe, aproveitava seu colo e agradecia por ter um exemplo materno tão moderno, carinhoso e direto! Mas no dia seguinte, nos corredores da escola, a angústia voltava como uma tsunami implacável. Cândida não conseguia namorar. A jovem notava o desabrochar de suas colegas e achava que jamais seria como elas. E Cândida tinha razão. O tempo passou, a escola acabou e ela ingressou na Universidade de biomedicina. Era a primeira da turma. E a ultima virgem da sala. Um dia, após uma prova de microbiologia exaustiva, Pedro, seu colega, sentou- se ao seu lado, puxou papo e a convidou para um café tão logo fossem dispensados. Cândida quase recusou, rubra e quente. Mas lembrou- se do tempo que não tinha vivido. Queria se arriscar. E descobrir se sua amada mãe tinha mesmo razão. Foram para um café pequeno não muito longe do campus estudantil. Pedro pediu um café curto. Cândida pediu água. Com gás. As borbulhas a refrescavam. Para acompanhar, mini chocolates suíços. Bateram papo, beliscaram, beberam, o sol foi embora, a lua descia cheia e brilhante. Resolveram esticar. Pedro conhecia um bar com música ao vivo e com pasteis incríveis. Foram. Sentaram-se novamente e aquela altura, já haviam construído a intimidade de um dia. Falavam sobre o curso, sobre os professores, desejos para o futuro… Bebiam uma gelada. Mas quando a lua se encontrava no ponto mais alto do céu, Pedro arriscou uma cachacinha. Cândida ferveu. Pedro notou mas fingiu que não. Porém, não pediu somente para ele. Pediu duas doses: UMA PRA MIM E OUTRA PARA ESSA JOVEM E ETÍLICA MULHER. Cândida desaguou. Tomaram uma, duas, três doses. Já se encontravam tontos e desnorteados. Pegaram um táxi e foram para a casa dele. Entraram e não trocaram mais nenhuma palavra. Só as línguas conversavam, se alisavam, se bebiam. Pedro foi descendo pelo dorso de Cândida que arrepiada exalava um doce cheiro de cana. Pedro aterrissou seus lábios no centro oculto de Cândida. E ali ele ficou. Por horas…. Sim. Se lambuzou, se encharcou, se afogou. Cândida experimentou múltiplos estados de êxtase ininterruptos. Tremia, suava, gemia, fervia. Adormeceram. O sol já queimava o asfalto de fora e Pedro ainda dormia, parado como uma pedra. A respiração quase não se ouvia. Cândida levantou- se plena, serena e segura! Deixou um bilhete antes de sair batendo à porta: QUANDO QUISER ME TOMAR, SABE ONDE ME ACHAR. MAS NÃO EXAGERE! POIS AGORA MESMO EU AINDA QUERO ME SACIAR. Pedro nunca mais apareceu na Universidade. Uns dizem que ele mudou de cidade. Outros, que se internou por vontade própria em uma clínica para viciados. Cândida preferiu ficar com a segunda teoria. E seguiu com a vida. Orgulhosa e decidida. Deixava uma fila de espera para degustação, diziam as más línguas. Ah! E quantas línguas, quantas beberam de sua aguardente… Já não tinha a conta. E já não se importava.