.Pode.r.
Tinha ele de morango, ela de pêssego.
A língua dela queria contornar os duros dele.
A mão dele queria ficar dentro dela, no úmido dos meios.
Os meios dela.
Os gemidos dela.
O suor dele nela.
Ela, eles
Dois num só
Solidão
A dois
Depois do tesão
Partidos opostos
Desejo
Profundo e de novo
E mais uma vez…
Ela de morango, ele de pêssego.
A língua dele queria contornar os duros dela.
A mão dela queria ficar dentro dele, no úmido dos meios.
Os meios dele.
Os gemidos dele.
O suor dela nele.
Elas, elas.
Elizabeta’,asas,
Saltava sexo pelos poros de Elizabeta. Mulher balzaca, casada, formada, de família estruturada e com uma rede eclética de amigos. Articulada, bronzeada, tímida mas nem tanto. Safa, dengosa, muito carinhosa. Por vezes um mistério profundo e impenetrável. Sorriso largo, pés atentos, ombros cansados. Um vulcão. Amando a companhia mas querendo tanto ficar sozinha. Mergulhar em si, cavando todos os desejos que ela coloca sim para fora. Sendo ela dela mesma. Mesmo se entregando a outros diversos velhos conhecidos. Mesmo casada. Convivendo com o segredo velado pela possibilidade de voar ou não. O amor não é uma gaiola, ela podia alçar. E voava, ciente e sedutora. Louca, doce doida. Chapada pela erva e pelo álcool de certos dias. Passada com sal e pimenta na realidade de seu destino. Uma erupção. Um caminho inteiro sendo tocado por sua lava, vermelha, quente, forte. Destruidora? Não sabia. Receava apenas. E ele ainda a indagou: mas você é casada, não fica com outras pessoas…
Talita’.Apaixonada.
Ele tava querendo há tempos como ela. Ele queria comê-la. Mas ela o comia, quando queria. E fazia tempo. Por isso, os dois queriam, agora, saciar o inesgotável. Dentro daqueles dois nada cabia para terminar. Tudo jorrava, o tempo todo, descontrolado e afoito. Se entregavam ao erro consciente, ao prazer insistente, a verdade incontestável. O desejo. De ambos. Fermentando na pele como o sol com sal na frente do mar. Uma poesia a esmo. Uma contemplação sem tempo. Um desejo. Bruto e irremediável. Sonoro e inseguro. Dois corpos surdos ao mundo quando estão juntos, entregues ao presente absurdo de justamente estarem juntos. Não tinha jeito. Não tinha meio. Era entre ela que se fazia o concreto, o que parecia certo. Mas não era. Ou será… Quem sabe… Não dá para saber. Só sentir. E ela sente, pulsando por dentro e escorrendo por fora. Uma moça atendendo seu corpo, louco, imperfeito, direto e forte. O corpo dela. Feminino centro, querendo, derretendo, sendo. Apenas sendo. Simplesmente Talita.
Grazielle’,O beijo,
Grazielle o calou com um beijo. Longo e molhado. Tanto tempo perdido, tantas palavras jogadas aonde só queriam guardar o gosto um do outro. A moça tomou coragem e beijou. Beijou, beijou… Um beijo mordiscado, nervoso, demorado. Rafael a apertou. Junto ao beijo, aquele beijo, doce, ansioso, duradouro. Grazielle ficou quente e amoleceu naquele apertado abraço. Agarrou Rafael com suas mãos finas de pianista trazendo o rapaz para dentro de si. Fizeram ali, na velha escada de incêndio. Num clichê exato da realidade. A realidade daquele beijo. Beijo de anos e anos trancado. No peito de Grazi, no peito de Rafa. Mas agora tava ali, o beijo, aquele beijo sendo tragado por ambas as bocas… Fortes, conscientes. Compartilhando de um sagrado desejo. Do beijo.
~ A ilha ~
Ela queria aquele menino porque ali, nele, a coisa se faria paixão, constância, necessidade permanente. Ela o queria porque ele, sabendo dessa possibilidade iminente de traição contínua, mantinha um medo moral, mortal, que o fazia provocá-la mas não mordê-la de fato. Será que era por isso? Por tudo isso que ela pensava nele ainda diariamente? Vivendo presa em um estado infinito de momentos não vividos. Outros ainda marcados num passado recente e ao mesmo tempo tão distante. Quase muito lá atrás. Talvez ela não tenha coração para isso. Por vezes acha que tem. E segue testando, brincando. Flertando com o perigo, com o proibido. Delicioso! Se entregando a outro para causar uma confusão de território corporal que realmente funciona. Ele diz: “hoje senti um cheiro diferente em você”. E ela pensa: “é porque fui de outro agora a pouco, hoje há pouco de mim pra você”. E ela foi mesmo de outro por instantes. Virou ela mar mergulhada no suor intenso e quase indolor de um velho estranho. Anunciado novo marinheiro navegando por aquelas ondas fervilhantes que formavam o corpo dela. Uma ilha vulcânica bem no meio do oceano. Dançando com o balanço das marés. Mas e ele, o menino? Ele a toca de forma juvenil. Ela corresponde. Voltam a uma novela agora um pouco mais romântica mas cheia, repleta, recheada, transbordante de tesão. Que tesão doído. Aliviado na solidão dos dedos dela. No quarto, na cama macia. Ou no chuveiro, gastando a água do mundo. E de novo ela vira mar. Escorrendo de desejo por dentro e dentro pulsando nele.