Filomena’*Todo dia – Parte dois*
Pegava fogo. Ardia.Vez ou outra sufocava. Pois Filomena tinha uma fome genuína, voraz. Ação! Lá estava ela, brilhando no meio da cena com algumas picas e bocas no meio de seu corpo. Ela trabalhava. Era certo de que não se agradava de todos. Mas curtia o desafio.
Quando o estúdio, borbulhante, aplaudia o final do Set, ela tirava a maquiagem, bebia quinhentos ml de água com limão. Esticava o corpo um pouco farto por quarenta minutos. Retornava então quando todos os cabos já tinham sido removidos, todas as câmeras já haviam sido guardadas, e a peneira de espaço-tempo já havia levado embora os desgostosos. Filomena se aproximava completamente plena e crua. Nua, sem retoques, com cara de sono. E dava. Dava! Para o Roberto da produção de arte, para a maquiadora Joyce, para o copeiro Luiz Gustavo, para a diretora Rosângela, para Rafael, o assistente de direção … Passados, iam todos embora. Calados extasiados. Filomena sumia na neblina que fazia naquele dia.Virava fumaça. E deixava pra trás todo o cheiro do seu longo dia no ar.
Filomena’*Todo dia – Parte um*
Filomena levantava cedo. Tirava seu corpo esguio e sonolento da cama e levava ao banheiro onde antes de tudo, gastava um bom tempo se olhando. Não era narcisismo. Era sua meditação. Apenas fixava os olhos no vidro espelhado e ali ficava. Sem pensar em absolutamente nada. Neutra. Calma. Inteira. Depois lavava o rosto, escovava os dentes… Tomava um café preto, grosso, forte, sem açúcar. Se alimentava bem. Queijos, frutas, nozes, toda sorte de grãos. Se demorava no prazer de comer. Tinha tempo. Gostava dele. Do tempo. Ele parecia existir a seu favor. Olhava para o céu e mesmo tendo tempo, precisava ir. Correu até o estúdio. Ele ficava há uns quatro quilômetros de sua casa. Comprou seu teto perto de propósito. Adorava correr. Ia assim para o trabalho. Era atriz pornô. Gravava uma série de sucesso na internet. Era famosa. Era assediada. E sabia lidar muito bem com isso. Muitos conheciam, admiravam e enlouqueciam com seus vídeos. Filomena era de outra categoria. Tinha elegância. Transbordava carisma e respirava sexo. Isso estava nas telas. Mas seus fãs não sabiam que Filomena era mesmo o puro desejo encarnado. Suada, ofegante e brilhante na luz do sol de nove horas da manhã, ela adentrou o estúdio já gelado pelo ar condicionado. Mas ela sabia que em poucas horas, aquele lugar iria arder dentro de um carnaval explícitamente carnal de todo dia.
Continua…
Teresa’*Tocava*
Ele tocava, ela sentia. Ele introduzia, ela gemia. Era assim a cada manhã, por sete dias corridos e ininterruptos. Um ciclo vicioso, fodido e gostoso! E não era rápido. Não! Se demoravam, se debruçavam, se lambiam, se roçavam. Os pelos embaraçavam. O ar se tornava sensualmente úmido. Respingado de vontade. Ele começava com a ponta de seus dedos. Beijava cada uma das falanges dela enquanto uma de suas mãos se molhava no quente do meio das pernas. Era exatamente ali que ela sempre se arrepiava. Onde havia uma fina camada de textura elevada na sua pele alva. A pele dela era sim muito branca. E a pele dele cheirava a jabuticaba. Brilhava em negro mistério. Parecia um poço profundo, onde a cada manhã ela queria se jogar. Depois dos dedos, ele, ereto e rijo, ciente de seu próprio corpo, penetrava dentro dela toda essa consciência realizada. Ele metia com força! E de novo, e de novo, de novo… De lado, de costas, de quatro, em pé esmagada contra a fria parede de pedra. Depois ela subia, montava. Cavalgava, longe, longe. Voava e aterrizava de volta completamente partida e esgotada. Então, ela se deitava de lado e respirava um pouco, observando o balanço das cortinas finas na janela. Ele se levantava para lhe preparar o café. Mas antes, lhe tocava uma música. Em sua velha Teresa, a gaita. Ela se levantava para lavar o rosto e se contemplava no espelho. Era uma bela mulher!
Dandara’.Fazia.
Ela fazia mesmo. Na maior cara de pau. Mas desses paus bem duros. Venoso e tenso. Estava casada há dezesseis anos e há onze fazia o marido de corno manso, dizia sua prima, sua maior confidente. Sua prima perplexa com as peripécias da parente adúltera, não compreendia que ela queria mais! O trabalho da danada era realizado na noite, como plantonista em um hospital. Dispensou muitas propostas extraconjugais. Mas no fundo, ela queria mais perigo, mais fuga, e talvez até mais culpa.
Num dia qualquer, de um mês qualquer, de mais um ano ao lado de Mário, depois do almoço, quando ele foi tirar a pestana sagrada com duração exata de meia hora de cada miserável dia- um luxo para Mário que mora ao lado do serviço- ela chamou o zelador de seu prédio pelo interfone dizendo que um cano havia estourado e que seu marido Mário estava ocupado demais para ajudar. O zelador subiu e quando a porta se abriu perante ele surge ela: pelada, lasciva e rápida! Quando o zelador percebeu já estava no chão, de pau duro, duríssimo, e com os peitos dela enchendo suas mãos. E o que era uma fuga passou a ser rotina. A cada santo dia ela fazia e fazia… E Mário roncava e roncava…
Hilda’.Tinha.
Queria mais! Mas tinha tanto! Tinha amor e liberdade. Ciúme e confiança. Tinha habilidades. Trabalhava no que queria, casou com quem escolheu. Ainda não tinha filhos. Por opção. Não tinha rotina. E valorizava isso. Frequentava teatros, cinemas, museus, boates, bares, parques de diversões. Era inteligente e influente. Fluente em cinco línguas. Também tinha cinco tatuagens. Uma delas, bem protegida. E somente seu marido e seus outros quatro homens conheciam. É, existia um flerte violento com o número cinco. Os dias seguiam. Dando, abrindo, vivendo, dando, vivendo, abrindo, dando, abrindo mais, mais, mais… Até que um dia, acordou assada. Mas era uma mulher prevenida. Já tinha a gineco marcada há dois meses. Sabia desde pequena que uma mina bem explorada precisa sempre se renovar. Se não, mineiro nenhum vai suar. Tinha consciência.