Catarina’!Um lugar do caralho!
Catarina fez sua morada de carne, veias, músculos e sangue. Vivia dentro de sua casa. Com pé direito alto, dentro de um terreno fértil e seguro. Com pequenas elevações nos lugares certos. E no centro, um singelo jardim onde Catarina cultivava uma mangueira robusta e frondosa. Duas grandes mangas se dependuravam em suas folhas emaranhadas pela natureza. Catarina subia na mangueira, trepava no tronco alcançando os galhos mais altos e enfim chupava aquelas duas mangas maduras, tensas… Fazendo Catarina experienciar uma explosão de sabor exatamente dentro da sua boca. Esse lugar do caralho!!! Feita para conhecer o mundo e saciar sua fome de viver. Não iria se mudar tão cedo. Sua mangueira tinha raízes tão fortes que ali deveriam ficar. Permanecer. Sua boca e as mangas de sua casa. Suculentas! Sempre à espera de Catarina.
Aurora’:Meu tempo:
Tiago foi entrando dentro de mim como um filho que rompe o último obstáculo para finalmente respirar a vida de fora. Parecia que ia demorar, mas depois que a cabeça passou, o corpo foi todo de uma vez. De supetão. No susto. No grito. No grito que soltei na hora. Doeu. Mas foi uma dor misturada com uma dose delicada de prazer. Depois do grito veio o gemido. Tímido, úmido, quase contido. Suas mãos grossas me envolveram e meu peito começou a pulsar junto com o peito dele. Veio o calor, o suor, os cheiros. Eu já estava embriagada, tomada a goladas demoradas. Até que chega o momento do ápice. O gozo infindo. Respiro enfim. Trêmula, ofegante, mas respirando. Enchendo o meu corpo de oxigênio, fumaça e partículas das mais variadas naturezas. Cheguei ao mundo. E eu não quero sair dele tão cedo. Mas ele saiu de dentro de mim. Leve, menor e escorregadio. Se levantou e foi embora. E eu fiquei ali, renascida e adormecida como um novo ser feliz! Uma nova Aurora. Esperando o próximo despertar. Para desbravar e ser em retorno desbravada. Para me doar. Meu tempo, meu templo e meu desejo. Sou morada de mim.
Tita’;Nosso silêncio;
Tita passou aquele dia perplexa. Pensando em sua sorte. É verdade que já havia sido abusada. Mas com os olhos e com as palavras. Nunca com o toque. Com a invasão física. Sempre tinha sido penetrada por pessoas que ela escolhia, que ela queria. Pessoas que seu corpo permitiam conhecer, trocar, dar prazer. Ela sempre foi dona de seu desejo. Dona de suas loucuras incrivelmente fantasiosas. Mas aquele dia era diferente. Os dias, na verdade, estavam ficando diferentes. Mais escancarados, mais abertos. Tudo exposto e julgado dentro de uma vitrine virtual. Então, Tita no meio de tanto barulho, resolveu se calar. Fazer um voto de silêncio. A ausência de som para respeitar a dor de tantas mulheres rasgadas e infindavelmente marcadas por mãos e paus podres. Cheios de preconceitos e ignorância! Pobres homens rasos… Tão pequenos e mal amados que buscam a ilusão mais suja do machismo. Acham que têm direitos sobre nós! Que somos todas deles, a qualquer hora em qualquer circunstância. E não medem baixeza para tal. Não sentem vergonha, remorso e nem tesão. Tudo é falso. São fracos e desprovidos de boas sensações. Ficam com o escuro. Nós levantamos! Sacudimos a pele morta e seguimos. Fortes, matriarcas guerreiras! Alimentando o mundo com nosso leite, nosso sangue e nossa sensibilidade. Nossa sagacidade. Mas por hora, manteremos as pernas bem fechadas!!!
Morena’;Desnorteada;
Morena estava voando. Voava alto. O vento batia forte em sua pele, quase gelado. Lá de cima ela sentia o mundo escapar por debaixo de seu corpo fluido, leve e tenro. De repente, esse corpo começou a ganhar uma velocidade impressionante e Morena sentia o pânico do desconhecido ao mesmo tempo em que sentia também um tesão avassalador. Tanto, mas tanto, que esse desejo crescente fazia a velocidade aumentar ainda mais. Seu corpo começou a tremer violentamente. Um calor parecia lhe invadir o centro da alma. E assim tudo escureceu. Um breu total e surpreendente calou até mesmo os sons ao redor. O tempo parou por alguns longos segundos e então Morena foi sugada por toda aquela paisagem negra descendo como que na velocidade da luz. E caiu de pernas abertas, encharcada. Acordou com sua boceta na boca de Helena. Amanhecia um dia vagaroso, fresco, de um laranja forte azulado. Morena cerrou os olhos mordendo seus próprios lábios ainda meio desnorteada.
Taciana’;Culpada;
Taciana ainda estava extasiada dos momentos vividos há algumas horas atrás. Era como se estivesse dentro de um sonho onde se está de olhos bem abertos, transitando entre a realidade e o que parece ser irreal. Ela estava procurando dentro de si a culpa, o remorso, uma certa tristeza… Mas não encontrava nada. Nada! Apenas o gosto daquela língua varrendo sua boca e daquele corpo pregado ao seu. Não chegaram às vias de fato. Apenas se roçaram. Se tocaram de leve, sentiram seus cheiros e a química das duas peles. O próprio beijo demorou a acontecer. Mas depois que as bocas finalmente se encontraram, o beijo ficou plural. Foram muitos deles. Intensos e extremamente presentes. Estavam vivendo o momento e deixando tudo fluir do jeito que dava para deixar. Porque dar, ela não podia. A moça era muito bem comprometida. O tesão por sua vez, ficou ali, explodindo nas mãos e nos lábios. E nos minutos. Esses passavam bem rápido! Precisava ir, voltar pra casa, para seu homem, para sua vida. Voltou. E a tal da culpa realmente não encontrou. E isso a deixou perplexa! Pois o que mais sabia fazer era se julgar. Sempre olhou para dentro de si tentando encontrar os caminhos que sua alma, residente de seu corpo, a levava. Estava extasiada. Fato! E o que aconteceu naqueles momentos já passados, iriam ficar guardados na memória de suas células. Rascunhado na moldura dele. Tendo apenas os cães da casa como testemunhas.