Marlucia’~ Doce vampiro ~
Marlucia tinha um puta amigo. Desses que trocam o pneu a qualquer momento e em qualquer lugar. Sem importar distância ou horário. Um amigo que dá o ombro largo para o choro doído e que sabe apreciar uma boa comida bem feita e oferecida. Um amigo que conhece seus pontos mais íntimos e sensíveis. Um amigo que não se importa em lamber e sugar sagazmente sua boceta eletrizada e vermelha. Deslizando suas papilas “degustativas” pelo mar sangrento dessa mulher. Marlucia. Marlucia e seu vampiro. Tão doce e sereno. Um amigo leal, de ouvidos atentos e coração aberto. E de uma boca… Tão vermelha quanto as internas de Marlucia. Tom sobre tom, boca, dentes e músculos dissolvendo desejo e necessidade. Membros, peles e sons contornando tudo ao redor. Confissões e tesão. Marlucia valoriza. E sente-se mortalmente atraída, uma vez por mês, por aqueles conselhos e mordidas. Que somente um bom e grande amigo pode dar. E lá ia ele, seu amigo, cair de boca despudorada e quase apressada no íntimo desaguado e colorido de seu ventre.
Manza’,Dona,
Dona Manza foi descortinada. No momento em que abriu a porta só sentiu mãos, lábios e uma infinidade de dedos já molhados de ansiedade e desejo. Foi jogada no sofá. A roupa foi quase delicadamente tirada mas deu tempo de rasgar. Suas pernas foram separadas apenas com o olhar. As mãos acariciavam seu pesado cabelo grisalho. Os lábios beijavam suas curvas enrugadas. E aquela infinidade de dedos se afundavam em esconderijos escuros e úmidos. Dona Manza era a pura selva Atlântica respirando com seus galhos e folhas. Correndo e desaguando como um rio caudaloso, perigoso. Pedras pelo caminho, algumas derrapadas quase mortais pelo balanço daquele corpo, daquelas águas. Dona Manza foi tomada. Mergulhada, engolida, diluída. Dissecada. Dona Manza estava sendo amada! Seu Januário esperou o verão, o outono e o inverno. Esperou a primavera vir com seu desfile florido a desabrochar. E colheu a rosa mais experiente, a mais vermelha, a mais quente! E colheu. Colheu Dona Manza. Senhora, viúva, avó, mulher! Que mulher! Que mulher!
,Cândida,
Cândida sofreu muito na adolescência. Simplesmente por conta do nome. Os meninos magrelos e espinhentos gritavam aos quatro ventos: CANDIDÍASE! E as meninas, por sua vez, sussurravam e sorriam quando ela passava de cabeça baixa, triste e magoada. Voltava pra casa afogada em livros grossos e lágrimas. Sua mãe a consolava: SEU NOME SIGNIFICA ALGO PURO E INOCENTE. E TAMBÉM UMA BOA AGUARDENTE DE CANA, CACHAÇA MESMO! AQUELE QUE TE PROVAR PRECISA TER CAUTELA E NÃO SE ENGANAR COM SUA PUREZA E DELICIA. ESSA PESSOA PODE SE EMBRIAGAR FACILMENTE. Cândida sentia aquelas palavras como um sopro depois do tapa. Abraçava a mãe, aproveitava seu colo e agradecia por ter um exemplo materno tão moderno, carinhoso e direto! Mas no dia seguinte, nos corredores da escola, a angústia voltava como uma tsunami implacável. Cândida não conseguia namorar. A jovem notava o desabrochar de suas colegas e achava que jamais seria como elas. E Cândida tinha razão. O tempo passou, a escola acabou e ela ingressou na Universidade de biomedicina. Era a primeira da turma. E a ultima virgem da sala. Um dia, após uma prova de microbiologia exaustiva, Pedro, seu colega, sentou- se ao seu lado, puxou papo e a convidou para um café tão logo fossem dispensados. Cândida quase recusou, rubra e quente. Mas lembrou- se do tempo que não tinha vivido. Queria se arriscar. E descobrir se sua amada mãe tinha mesmo razão. Foram para um café pequeno não muito longe do campus estudantil. Pedro pediu um café curto. Cândida pediu água. Com gás. As borbulhas a refrescavam. Para acompanhar, mini chocolates suíços. Bateram papo, beliscaram, beberam, o sol foi embora, a lua descia cheia e brilhante. Resolveram esticar. Pedro conhecia um bar com música ao vivo e com pasteis incríveis. Foram. Sentaram-se novamente e aquela altura, já haviam construído a intimidade de um dia. Falavam sobre o curso, sobre os professores, desejos para o futuro… Bebiam uma gelada. Mas quando a lua se encontrava no ponto mais alto do céu, Pedro arriscou uma cachacinha. Cândida ferveu. Pedro notou mas fingiu que não. Porém, não pediu somente para ele. Pediu duas doses: UMA PRA MIM E OUTRA PARA ESSA JOVEM E ETÍLICA MULHER. Cândida desaguou. Tomaram uma, duas, três doses. Já se encontravam tontos e desnorteados. Pegaram um táxi e foram para a casa dele. Entraram e não trocaram mais nenhuma palavra. Só as línguas conversavam, se alisavam, se bebiam. Pedro foi descendo pelo dorso de Cândida que arrepiada exalava um doce cheiro de cana. Pedro aterrissou seus lábios no centro oculto de Cândida. E ali ele ficou. Por horas…. Sim. Se lambuzou, se encharcou, se afogou. Cândida experimentou múltiplos estados de êxtase ininterruptos. Tremia, suava, gemia, fervia. Adormeceram. O sol já queimava o asfalto de fora e Pedro ainda dormia, parado como uma pedra. A respiração quase não se ouvia. Cândida levantou- se plena, serena e segura! Deixou um bilhete antes de sair batendo à porta: QUANDO QUISER ME TOMAR, SABE ONDE ME ACHAR. MAS NÃO EXAGERE! POIS AGORA MESMO EU AINDA QUERO ME SACIAR. Pedro nunca mais apareceu na Universidade. Uns dizem que ele mudou de cidade. Outros, que se internou por vontade própria em uma clínica para viciados. Cândida preferiu ficar com a segunda teoria. E seguiu com a vida. Orgulhosa e decidida. Deixava uma fila de espera para degustação, diziam as más línguas. Ah! E quantas línguas, quantas beberam de sua aguardente… Já não tinha a conta. E já não se importava.
Marialva’.só.
Marialva, ao contrário de seu nome, era uma boa morena jambo. Dessas de contorcer pescoços e línguas. Era muito falada, extremamente observada. Não era tão nova mas ainda se mantinha na fresca juventude. Casou, separou, tornou a casar e alguns meses depois enviuvou. Sentia-se tão experiente, vivida, que não tinha mais vontade ou necessidade de ter outra pessoa. Pode parecer estranho, mas Marialva não suportava mais ser enxergada. Queria sumir. Queria ser apenas uma brisa, um cheiro silvestre, uma concha no profundo do mar. Foi para a beira das ondas que se desmanchavam brancas e mornas. Deixou o sal lamber sua pele e o sol cobrir todo seu corpo. E ficou. Ficou! Por muitas dias. Por muitas noites. Não saía de frente ao oceano. Também não tinha fome ou sede. Estava plena consigo mesma. Não precisava de mais nada ao redor. Tinha como companhia as lembranças breves porém intensas de sua vida. Lembrou-se de cada homem que a tocou. De cada lábio que a beijou. De quanto gozo entornou. Sorriu quando quase se esquecia da vizinha amiga que há muito tirara sua virgindade. Coisa de criança. Sorria. E durante o passar de sol e lua, Marialva se tocou por cada um. Por todos que a tiveram. E também por todos que sempre a quiseram. Morria de prazer a cada movimento. Eram somente ela, o mar, o tempo e o vento. O povoado conta que Marialva nunca mais saiu de lá. Uns dizem que virou areia. Outros, que seu corpo se misturou às águas salinas profundas e ocultas. O fato é que a verdade mesmo ninguém soube. Marialva virou lenda, virou brisa. Quem chegasse por aquelas bandas poderia jurar sentir um perfume silvestre no ar. E a estranha sensação de querer amar. Se amar. Sem sequer nada em troca esperar.
Felícia’.Felicíssima.
Felícia recebeu o convite mais diferente de sua vida naquela noite. Glória, sua amiga do supletivo, conhecia uma casa noturna inexplicavelmente incrível! O processo era sério. Só entravam pessoas recomendadas por clientes veteranos. A casa já tinha cinco anos de praça. E durante esse tempo, acumulou algumas boas dezenas de pessoas insaciáveis por novidade e acima de tudo, qualidade! Glória era a cliente número um. Foi namorada do dono da casa. Ficaram amigos. Felícia pensou, melou um pouco as possibilidades mas por fim disse um sonoro sim. Em menos de vinte minutos Glória já a esperava em um besouro verde de quatro rodas. Duas mulheres maduras e finamente belas. Livres e famintas. De longe, Felícia pôde avistar uma placa elegante onde só as maiores letras se vestiam de luz. Apenas se aproximando, agora a pé, foi que felícia conseguiu ler as letras apagadas que se casavam com as iluminadas: /SexOrgÁsticOLândiA/. Felícia se intimidou. Pensou em voltar atrás mas não tinha necessariamente nada a perder. Entrou. Quem olhava por fora não podia imaginar jamais a preciosidade que se estendia em cômodos, pessoas nuas, madeiras, cascatas, lagoas artificiais em meio a um verde inebriante e infinito. Alguns usavam máscaras. Eram os funcionários. Esses adornos faciais não seguiam um padrão. Alguns pareciam bonecos e outros animais. Ia do gosto de cada um. Nesse caso, funcionário e freguês. Pois Felícia, assim como qualquer outro, poderia se deliciar com o barman ou com um outro visitante daquele lugar. Mas ela preferiu primeiro se embriagar. Quando foi pedir um drink, assistiu a mulher do caixa passar o seu cartão e ao mesmo tempo sentar e levantar e sentar e levantar de cima do pau do cara que estava atrás dela e de sua amiga Glória na entrada. Segurando seu Cosmopolitan na mão viu sua amiga caminhar gloriosa no meio de um casal heterossexual. Acompanhou com os olhos vidrados os três corpos sumirem e entrarem por uma grande porta onde se lia: Cabaré particular. Uma essência de cereja ficou no ar quando a porta bateu. Felícia se deixou sentar. De uma golada finalizou seu drink. Duas mãos abraçaram seus seios por trás. A taça caiu no chão quebrando o torpor de qualquer dúvida. Ela não se virou. E deixou. De olhos bem fechados sentiu mais um par de mãos caminhar por entre suas coxas. Estava sendo tocada, de forma larga. Lambida como a última gota afrodisíaca. Em pé foi duplamente penetrada. Abriu os olhos. Não conhecia os dois homens que se encontravam dentro dela. Eles não usavam máscaras.Usavam camisinhas. Lindos! Deliciosos! Felícia e seus dois. Um trem da alegria.