~ A ilha ~
Ela queria aquele menino porque ali, nele, a coisa se faria paixão, constância, necessidade permanente. Ela o queria porque ele, sabendo dessa possibilidade iminente de traição contínua, mantinha um medo moral, mortal, que o fazia provocá-la mas não mordê-la de fato. Será que era por isso? Por tudo isso que ela pensava nele ainda diariamente? Vivendo presa em um estado infinito de momentos não vividos. Outros ainda marcados num passado recente e ao mesmo tempo tão distante. Quase muito lá atrás. Talvez ela não tenha coração para isso. Por vezes acha que tem. E segue testando, brincando. Flertando com o perigo, com o proibido. Delicioso! Se entregando a outro para causar uma confusão de território corporal que realmente funciona. Ele diz: “hoje senti um cheiro diferente em você”. E ela pensa: “é porque fui de outro agora a pouco, hoje há pouco de mim pra você”. E ela foi mesmo de outro por instantes. Virou ela mar mergulhada no suor intenso e quase indolor de um velho estranho. Anunciado novo marinheiro navegando por aquelas ondas fervilhantes que formavam o corpo dela. Uma ilha vulcânica bem no meio do oceano. Dançando com o balanço das marés. Mas e ele, o menino? Ele a toca de forma juvenil. Ela corresponde. Voltam a uma novela agora um pouco mais romântica mas cheia, repleta, recheada, transbordante de tesão. Que tesão doído. Aliviado na solidão dos dedos dela. No quarto, na cama macia. Ou no chuveiro, gastando a água do mundo. E de novo ela vira mar. Escorrendo de desejo por dentro e dentro pulsando nele.