Fabíola’…Trinta e três anos…
Há treze anos não se encontravam. Dividiram em algum lugar do passado, a mesma cama por vinte longos anos. Foram felizes por muitos deles. Mas um dia, Fabíola se atracou com outro rapaz. E Marcelo então sucumbiu. No momento em que soube a traição da esposa, a mãe de suas duas filhas, ele caiu. Marcelo escureceu como o negrume da noite na mata. Permaneceu apático por um mês. E ao final de trinta e um dias, pediu o desquite. A separação foi dura e parecia durar os mesmos longos vinte anos de união. Todos saíram feridos. Fabíola seguiu seu caminho viajando pelo mundo. Sentia fome de novidade. Conheceu todos os cantos e recantos. Conversou com uma infinidade de pessoas e experimentou momentos e comidas excepcionais. Marcelo ficou em casa, mesmo cenário de outrora. Tinha a companhia das filhas. O relógio andou. Correu. As meninas se formaram e se casaram. Marcelo, solitário, sentado no banco de esquina de um tradicional bar da cidade, viu Fabíola cruzar a pista em sua direção. Marcelo sentiu o coração pausar por doloridos cincos segundos. Que pareceram durar vinte anos. Longos. Os cabelos de Fabíola estavam livremente longos. Soltos. Ela estava magra, séria, e tocava o asfalto de salto, muito determinada. Fabíola demorou treze anos para atravessar aquela rua. Marcelo passou treze anos sentado naquele banco de esquina de um tradicional bar da cidade. À espera dela. À espera de Fabíola. Ela chegou, se aproximou e sorriu. Com a troca de olhares, tudo ao redor começou a girar e girar… Até parar. Por completo. O mundo todo parecia estar no mute. Sem som, sem tempo ou espaço. Fabíola deu mais um passo e Marcelo abriu seus braços. Ela caiu. Caiu dentro dele. Sem reação. Se deixando levar. Deixando fluir. Todos aqueles vinte anos ainda estavam ali. Tatuados no corpo dele. Gravados nas células dela. Os seios dela nas mãos dele. A boca dele no ventre dela. Os dois ali, novamente. Por quanto tempo? Não queriam pensar. Estavam exaustos de julgar. De repente, não havia mais passado ou futuro. Somente o agora. Era tudo o que tinham. E assim, o ex casal permaneceu. Fincou. Grudou. Germinou.
Rejane Saraiva
05 ago 2017 @ 19:56
20 anos, 13 anos, um instante!