Maura’.Paraíso de carne.
Maura acordou incrédula. Estava nua, completamente, vestida de nascimento. E parecia mesmo ter acabado de nascer. Em um novo mundo. Ainda com a visão embaçada, conseguiu diferenciar as linhas femininas e masculinas de tantos outros corpos nus. Alguns ainda se cobriam de purpurina. Mas os bicos duros e os paus largados desfilavam quase puros por entre brilhos. O cenário era selvagem, natural, de um verde profundo e sem fim. O frescor cortava a sensação intensa de calor por entre as clareiras de luz absorvidas por aquela desconhecida floresta. Maura passou a caminhar como uma turista cansada do trabalho que deixara para trás e ávida pela novidade de uma viagem tão esperada. Espera! Era isso? Maura estava viajando? Não queria saber ao certo a resposta. Embarcou naquela realidade absurda mas estranhamente íntima. Seus olhos, agora bem abertos, registravam orgias à beira de cachoeiras dantescas. Milhares de corpos misturados. Gemidos altos e gritos nada abafados. Dedos, línguas, lábios, peitos… Bundas montanhosas faziam desenhos inimagináveis no ar, sob rasantes de borboletas azuis cintilantes. O beija-flor seduzia a flor, uma banda de marchinha antiga tocava ao longe e cachorros sadios permaneciam grudados por horas a fio. Maura acordara em um mundo livre, despido, desinibido. Maura, tomada por trás, sem aviso, se deixou cair em quatro braços que de repente a envolviam e percorriam seu dorso arrepiado e macio. A música ficou mais alta, os gritos mais sentidos e toda a nudez ali presente compôs o quadro mais bonito do artista que o pintava. Maura, no centro da tela, exposta em cores muito bem arquitetadas, sendo lascivamente amada! O desejo ali, a olhos vistos. Bocas nervosas que bebiam seu espumante e comentavam enlouquecidos sobre a nova obra do recente queridinho das artes. Ele, o artista. E Maura, sua esposa, a protagonista.