Filomena’*Todo dia – Parte dois*
Pegava fogo. Ardia.Vez ou outra sufocava. Pois Filomena tinha uma fome genuína, voraz. Ação! Lá estava ela, brilhando no meio da cena com algumas picas e bocas no meio de seu corpo. Ela trabalhava. Era certo de que não se agradava de todos. Mas curtia o desafio.
Quando o estúdio, borbulhante, aplaudia o final do Set, ela tirava a maquiagem, bebia quinhentos ml de água com limão. Esticava o corpo um pouco farto por quarenta minutos. Retornava então quando todos os cabos já tinham sido removidos, todas as câmeras já haviam sido guardadas, e a peneira de espaço-tempo já havia levado embora os desgostosos. Filomena se aproximava completamente plena e crua. Nua, sem retoques, com cara de sono. E dava. Dava! Para o Roberto da produção de arte, para a maquiadora Joyce, para o copeiro Luiz Gustavo, para a diretora Rosângela, para Rafael, o assistente de direção … Passados, iam todos embora. Calados extasiados. Filomena sumia na neblina que fazia naquele dia.Virava fumaça. E deixava pra trás todo o cheiro do seu longo dia no ar.